20 abril 2006

A Rainhazinha!

“Se ordenasse a um general”, dizia frequentemente, “se ordenasse a um general que se transformasse em ave da marinha e se o general não obedecesse, a culpa não era do general. A culpa era minha.”
O Principezinho, Saint-Exupéry

O Principezinho, logo no início da sua viagem, encontrou um asteróide onde morava um rei. Um rei que gaguejava um pouco e parecia vexado. Um rei sem súbditos, que gostava de ver as suas ordens obedecidas e a sua autoridade respeitada.

Era uma vez a OA. Vivia num asteróide. Mais ou menos ignorada por todos. A um canto, se os asteróides tiverem cantos. Sem ninguém lhe encontrar grande préstimo. Sem ninguém lhe reconhecer grande mérito. Que também gaguejava e parecia vexada, de tempos a tempos. Era má. Vivia sozinha. Vivia sozinha porque era má. Não era má porque vivia sozinha. Gostaria de ser obedecida. De ter muitas ordens para dar a muitas pessoas. De ver reconhecida a sua importância. Como aquele rei. Mas está bom de ver: sem súbditos não há rei.

Um dia, lembrou-se de inventar uma regra. Era a calhar: ela gostava de ser obedecida. A partir daquela altura, todos teriam que lhe pagar um tributo. E que lhe prestar tributo. Por nenhuma razão especial. Porque sim. Nem prestou nenhum serviço adicional. Nem deixou de estar sentada no trono do costume. Com a perna cruzada para o mesmo lado. Ajeitando a coroa de vez em quando. Para se garantir que ainda a tinha.

A regra era simples. E as pessoas concordaram. Não queriam incomodar-se. Também é uma regra simples. A rainha foi dando ordens.

E deu-se ares de grande autoridade.

Os súbditos foram obedecendo. A rainha entusiasmou-se com as ordens. Os súbditos começaram a desconfiar. As regras complicaram-se para esconder a sua ineficácia. Surgiram dúvidas nos súbditos e as primeiras revoltas.

A rainha perdeu a razão. Se fosse possível perder o que se não tem.
- Farão o que eu quero!
Ficou histérica.
- Agora dez de vocês vão para aquele tribunal! Esperam para ser precisos!
Tira a coroa para puxar os cabelos que lhe restam.
- Quero dez intervenções! Dez relatórios! Dez consultas! € 400!
Bate os pés no chão, bate com as mãos nos apoios do trono.
- E vai tudo fazer oral!

A rainha lá se mantém no seu trono. Assente num baralho de cartas. À espera de um vento mais forte. E os súbditos vão soprando. À espera de ordens razoáveis. Ou de não ter rei.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pois é! Mas bem ou mal sempre é melhor ter um rei do que não ter, pensarão muitos dos súbditos mais fiéis, não é? Afinal de contas «Por trás (LITERALMENTE) de um grande advogado há sempre uma grande OA».

21 abril, 2006  

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