Ó C.!!
Tanto quanto sei, não aconteceu. Mas podia. Pode.
Exmo. Senhor Presidente
do Conselho Distrital da OA
Eu, abaixo assinado, Senhor A., pai de dois filhos, B. e C., recém licenciados ambos, casado com D., residente na Quinta ao Fundo da Vila, de quem vem pela N1, passando pela rotunda do chafariz, venho requerer a V. Senhoria que se digne nomear um defensor oficioso ao ora Requerente.
Sou pai de dois rapazes, B. e C.. O B., mais velho, mais ajuizado, mais sensato, mais responsável, lá escolheu ser médico. Fez o seu curso, com a graça de deus e o meu dinheiro. Lá está, encaminhado na vida. Trabalha no centro de saúde. Vai casar com uma senhora professora primária, escriturou o seu T2 na ponta da linha de Sintra, comprou um carro à noiva, quase novo. O rapaz faz-se.
O meu C. meteu na cabeça em novo que havia de ser Advogado. Ainda achei que era uma coisa passageira, como quando quis ser artista de circo. Mas não. Tanto andou, que lá foi para a faculdade.
O meu mais velho fez o que tinha a fazer. Estudou cinco anos, comprou os livros que precisou, leu-os, aprendeu-os. Se a gente se queixa daqui, logo ele diz que deve ser dali. E foi trabalhar. O meu mais novo não sei a quem saiu.
- Ó C.! – diz a gente – Mas quantos livros precisas tu para essa disciplina?!
Que tem que ser, que é preciso, que lhe mandam. E lá vamos, a mãe e eu, ver onde o podemos ir buscar. E se a gente se quer aconselhar com ele, não sabe. Que depende, que pode ser uma coisa e outra, que tem que ir procurar. O rapaz não estuda!
E deve andar a enganar-nos. Até perdoamos que seja estúpido, mas mentir ao pai e à mãe é que não está certo. Diz que terminou o curso, levou-me lá à cidade ver o patriarca no ecrã gigante, e agora diz que precisa mais dinheiro para um estágio qualquer.
- Ó C.! Vem para junto da gente! O teu pai dá um jeito à garagem e tu abres um escritório.
Que não pode ser, que faltam dois anos, que ainda não pode. Não criei um filho para ser mentiroso!
Não podemos tirar mais da reforma. E a gente:
- Ó C.! Se não estudaste, estudasses!
Há alturas em que o bem deles é mais importante que o bem que lhes queremos. Cerrei os dentes, e a carteira.
Agora, recebo em casa uma carta de um Senhor Doutor a dizer que me apresente, que vá, que responda, que esclareça. Diz a carta que o meu mais novo pediu a um Juiz que me condene a continuar a sustentar-lhe o vício do Direito. Diz que trabalha num escritório 8 e 9 horas por dia. Que não recebe. Que trabalha nas portagens de Alverca ao fim de semana. Que tem que pagar a renda do quarto onde vai para dormir. Que tem que pagar cursinhos a que o estágio obriga. Que o dinheiro não chega. Que está cansado. Que está falido.
- Ó C.! Se não estudaste, estudasses!
Diz que violei o artigo 1880º do Código Civil. Que sou obrigado a ajudá-lo enquanto ele estiver em formação. O rapaz já lá anda há cinco anos...!
Artigo 1880º
Se no momento em que atingir a maioridade ou for emancipado o filho não tiver completado a sua formação profissional, manter-se-á a obrigação a que se refere o número anterior na medida em que seja razoável exigir aos pais o seu cumprimento e pelo tempo normalmente requerido para que aquela formação se complete.
Vejam lá os Senhores se me arranjam um Senhor Doutor Advogado que me defenda. Que vá dizer estas coisas ao Juiz. Sempre ajudei o meu mais novo como fiz com o mais velho, que são ambos meus filhos. Um já é Doutor, o outro nunca mais lá chega! Que desgraça a minha, metido com a justiça, agora depois de velho. Para que havia de dar na cabeça ao rapaz!
Ó C.!
Se no momento em que atingir a maioridade ou for emancipado o filho não tiver completado a sua formação profissional, manter-se-á a obrigação a que se refere o número anterior na medida em que seja razoável exigir aos pais o seu cumprimento e pelo tempo normalmente requerido para que aquela formação se complete.
Vejam lá os Senhores se me arranjam um Senhor Doutor Advogado que me defenda. Que vá dizer estas coisas ao Juiz. Sempre ajudei o meu mais novo como fiz com o mais velho, que são ambos meus filhos. Um já é Doutor, o outro nunca mais lá chega! Que desgraça a minha, metido com a justiça, agora depois de velho. Para que havia de dar na cabeça ao rapaz!
Ó C.!
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