04 junho 2006

Bué à frente!

Li, num artigo de um jornal de referência, que o CDL é um exemplo de como as novas tecnologias de informação podem ser usadas para melhorar os serviços prestados.
Surgiram-me duas dúvidas.

Uma: que serviços presta o CDL?
O que saberá o tal jornal de referência que os Estagiários desconhecem?
A emissão da cédula profissional?
Eu também conheço uma gráfica, muito jeitosa, lá para os lados de Alfragide, que as faria. Iguaizinhas!
A realização de exames?
Inventaram a obrigatoriedade dos exames. Não compro um serviço, ao realizar o exame. Cumpro uma obrigação. Uma imposição.
A formação que prestam?
Apre! Eu não devia falar nisto.
- Advogado mais novo visita advogado mais velho!
Só frequento as aulas porque é obrigatório. Só assisto a acções de formação porque me obrigam. Vamos ver a assistência que têm essas acções, agora que não dão créditos.

Tanto quanto sei, um serviço é algo eu compro. Só compro o que preciso. Ou o que me dá gosto. Ou o que quero oferecer.

A propósito, gostaria de sugerir ao CDL a realização de uma campanha de marketing, para promover as acções de formação.
Cheque brinde acções de formação: o presente perfeito.
O lançamento seria acompanhado por uma intensa promoção nos media, com panfletos enviados aos pais do jovem Estagiário, seguidos de chamadas telefónicas para garantir que foram recebidos e saber se não haverá interesse na aquisição de um pacotinho de acções de formação. Ou de um lugar cativo. Na primeira fila, mesmo em frente ao projector do Senhor Doutor Advogado Formador. Em linguagem de marketing, parece que isto se chama fazer o fallow up.
E talvez até, deixo ao critério dos Senhores Doutores Advogados, um passo mais arrojado, com aquele senhor do impermeável verde, sem pescoço, em frente ao largo de Santa Bárbara.
- Falam, falam, falam, falam, falam, falam, e a gente não aprende nada! Fico chateado!

Retomando, não conheço os serviços que o CDL presta. Culpa minha, que me não informo.

Duas: porque não pode o Estagiário entregar todos os documentos, no final do estágio, pela internet?
Sendo o CDL um exemplo a seguir, surpreende-me que não tenham pensado nisso. Os modelos dos relatórios, consultas, requerimentos e afins estão disponíveis on-line. O Estagiário deve entregar todos os relatórios, consultas, requerimentos e afins em suporte digital. Existem acções de formação on-line. Porque se obriga o Estagiário a ir ao CDL? A faltar ao trabalho, qualquer que ele seja. A estar numa filinha, como quem espera no supermercado para pagar as comprinhas do mês. Que, por acaso, também se podem fazer on-line. Os supermercados são um exemplo a seguir no aproveitamento das novas tecnologias. Quem quer vender, actualiza-se. Como o CDL.

Se por acaso não podem ser entregues estes documentos on-line porque a Senhora da secretaria precisa conferir os papelitos, use-se o mail.
- Ó Senhor Doutor! Veja lá isto outra vez! Não vê que isto não está bem?! Corrija lá! Mande outra vez!

Se for por causa do chequezinho que o Estagiário deixa à saída, pode pedir-se que lhe enviem o comprovativo da transferência bancária.
(- Muito à frente...??!!)

Eu acho que há um motivo para obrigar os jovens estagiários a estarem em frente do CDL. Em frente, e à volta. Em fila indiana, com os seus fatos vestidos e a malinha em pele na mão. Diria que faz falta uma daquelas campainhas das lojas dos chineses

ding dong, ding dong

de cada vez que alguém entra.

Julgo que nos colocam todos em fila, pertinho uns dos outros - como quando colocam dez Estagiários no TIC, numa sala para cinco - por uma razão: para que tomemos consciência de quantos somos. É como se o CDL nos pusesse uma mão no ombro e abrisse a outra para a fila.
- Tu vê bem quantos são! Achas que te safas? Tu não queres desistir? Ainda estás em tempo!

Romance
(A voz de Satanás já nesse tempo
Era humana e natural...)
Miguel Torga, O Outro Livro de Job


O CDL, afinal, é um exemplo também da contenção com que devem ser usadas estas novas tecnologias. Valores mais altos se levantam, por vezes.

2 Comments:

Blogger TonecasPintassilgo said...

Eu não sou de Direito (para tal sempre me faltaria engenho e arte...) nem estou a par dos "tortuosos caminhos" da vossa profissão. Mas que, ao ler estas matérias - tão bem escritas e inteligentemente tão bem (ex) postas - até apetece ir advogar para outra freguesia... é uma verdade!...Parabéns.
Eh eh eh.

10 junho, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Great site loved it alot, will come back and visit again.
»

21 julho, 2006  

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