10 julho 2006

É só história

O vagar faz colheres. Fui tentar perceber quem e porquê achou que era necessário haver uma OA. Em que é que estariam a pensar quando se lembraram de criar uma coisa destas.
Não descobri muita coisa. Muita(s) história(s), poucas justificações. De como surgiram as leis, e os Advogados, e os Juízes, e os tribunais. E tal.

No início da vida em sociedade, aí por volta de quando os animais falavam, os conflitos eram resolvidos pelas pessoas a quem fosse reconhecida alguma sabedoria e sensatez. Não era preciso muito conhecimento jurídico, bastava bom senso e sentido de justiça.

Depois, quando a simplicidade entediou as pessoas, inventaram o Direito, e as regras, e as leis, e os processos. Foi preciso inventar Advogados, essencialmente profissionais do processo. Mas desde sempre muito bem falantes. Houve uma altura em que se julgou necessário limitar a duração da intervenção do Senhor Doutor Advogado para apenas 3 horas. Haja alguém que o cale! É algo que ficou ainda em alguns exames orais.
- Passaram 15 minutos, o seu exame terminou!

O Advogado é com frequência assemelhado a um sofista. É ainda comum vê-lo como o sujeito que sabe usar as palavras para contar uma mentira como se fosse verdade, de levar ao engano como quem revela a verdade.
Saber usar a palavra é das poucas características que se mantiveram ao longo dos tempos. Já usaram e não usaram toga, já permitiram e não permitiram mulheres, já foram e não foram pagos, já estiveram e não estiveram organizados.

Ora, a organização dos Senhores Doutores Advogados começou por ser apenas um Conselho, que nem sequer existiu em todas as épocas históricas, com o objectivo de controlar o acesso à profissão, para impedir que pessoas sem qualificações pudessem aproveitar-se das necessidades dos demais. Qualquer um poderia ser bem falante, mas só os merecedores passariam no teste. Qual Indiana Jones, em busca do Santo Graal!

Este teste, porém, quando existiu, consistia num exame que um ou dois Advogados ou Juízes faziam ao candidato. Em algumas épocas, o exame era feito depois de ter sido frequentada a faculdade. Noutras alturas, o candidato simplesmente apresentava-se ao exame. Noutras ainda, nenhuma organização controlava o acesso à profissão. As pessoas escolhiam o profissional que entendiam. O que lhes parecia melhor.

Em nenhuma altura se existiu um modelo semelhante a esta aberração que hoje conhecemos. A esta sucessão de exames. A esta interminável aprendizagem. A esta infindável correria de créditos e formações. A esta insuportável falta de respeito. A esta intolerável afronta. Mas vão-me faltando as palavras. Vai-me faltando a vontade.

Desfecho
Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te...
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte.)

Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente
Do teu vulto calado
E paciente...

E lutei, como luta um solitário
Quando alguém lhe perturba a solidão.
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.

Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia...
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia.
Miguel Torga, Câmara Ardente

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pois é, o que interessa é lixar a malta.Mas, meu caro A.R. vocés que são estagiários já se deviam ter organizado e corriam á bastonada com estes tipos que vos lixam a vida.Corram com estes cabrões á bastonada e ao chicote.Haja paciência Homem!Façam queixa ao Provedor de Justiça, ao Tribunal Europeu, sei lá, mas façam alguma coisa!!!

21 outubro, 2008  

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